Mangueirinha, 07 Agosto de 2016

Caro Giovanni Tellure Resolvi escrever pois estou sozinho, e escrevendo é como se o abraçasse. Estou bem distante das pessoas que quero bem. Na verdade estou hoje afastado de muito coisa. A noite de hoje resolveu passar lentamente, e meus pensamentos estão rebeldes. Percebo a cada momento como somos inevitavelmente sozinhos, e o meu medo é não ser uma boa companhia para mim mesmo. Não saber ficar só é um grande mal, não sendo uma agradável companhia para mim serei para o outro? Hoje eu voltei a ouvir os grilos, na cidade não há grilos. Na cidade há milhares de passatempos. Passatempos que nos interrompe reflexões sobre nós mesmos, não nos encontramos com o "eu". As lacunas estão ocupadas com outras atividades, atividades frenéticas que despejam sobre nossos lombos a ilusão de felicidade. A satisfação diante dos miúdos momentos de alegria sofre uma constante necessidade de registo tecnológico. Precisamos compartilhar para que os outros curtam. Esse curtir é por sua vez demasiado contraditório, penso curtir como a actividade de demora de um tecido para ser tingido, o tempo é moroso não há pressa. O curtir como função de aprovação, ou de sensibilização pelo movimento de existência do outro. E quando postamos algo para nos sentirmos aceitos, esperando receber o aval do outro, sancionando : "sim concordo ser este um momento feliz, eu acredito estar me alegrando com isso, (e mais milhares de outros posts que via na última hora) dentro de segundos vou esquecer a poesia que você levou horas para escrever, a canção que levou meses, a formatura que levou anos para chegar" O real é consumido em poucos segundos, pois não temos tempo para se demorar com algo, temos nas mãos um deposito de existências, um espaço para difamação do outro, há muita coisa bela, mas quando passamos a ser tão instantâneos? Pq me afeta tanto a solidao, quando estou com alguém não consumo ela, me lambuzar da sua presença, querendo saber como está, sua histórias, seus medos, me demorar atentamente nas suas respostas, mas antes de tudo fico pensando no que dizer, ensaio textos durante a espera da minha companhia, como por celular eu me demoro enchendo o diálogo com um monte de vários nadas. O que me entristece é que esse próprio texto vai passar por isso, vai ser esquecido, se eu postasse seria esquecido, eu posso deixar em algum lugar que não veja mais, pode não sucitar discussão nenhuma, mas talvez o meu interlocutor não esteja no mesmo momento que eu, pelo menos para discordar, nem isso tenho. Nem isso tenho. Acredito que precisamos aceitar. Nada do que direi irá fazê-los agir de modo diferente. Eu mesmo que escrevi as palavras a cima, sou um protótipo dos pecados que acuso. Não mudará, será cada vez mais instantâneo. estaremos cada vez mais afastados? Estou apenas agindo pensando no meu umbigo? Há vestígios de empatia, de compaixão, entre eu e o outro há uma necessidade de companhia além dos interesses, pela própria companhia? Depois dos beijos, do sexo, da boa comida, dos passeios, depois da belas imagens e sons, depois dos acessos de raiva, da possessão, depois da dor e do gozo, o que fica? O que amo, quando amo o outro, diria o filósofo Sto.Agostinho. O que quero quando beijo ela? Quando transo com ela? Quando pego em suas mãos? Estou preocupado com o transporte de energias do seu corpo quente no meu? Ainda escrevendo, continua a mesma coisa, mesma angústia, o tédio, a inação, o que revela a miséria da minha vida, na ausência de momentos pomposos, longe das distrações o que sobra?

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