SOLIDÃO -μοναξιά (Monaxia)


VAN GOGH - "O HOMEM VELHO COM A CABEÇA EM SUAS MÃOS" - 1882


Ficar sozinho é um belo processo de transcendência. E digo sozinho mesmo, você e aquele cochicho safado habitante da sua cuca maravilhosa. Isto é, não apenas dos amores, Mas das pessoas e coisas que nos distraem de nós mesmos. As vezes é desesperador, procuramos entretenimentos, amores, lazer, trabalho, estudo, ou seja, distrações para que a caixola rebole de largo e drible a famosa frase do estranho grego "conhece-te a ti mesmo".
Essa coisa de "Não eu" (isto é) a demora exagerada com aquilo que me rodeia, me aliena de mim, isso impede de enxergar aquilo que sou. Meu compadre de cuia, Albert Cammus, dizia que é na solidão descobrimos a miséria que é a vida, ou seja, sem as bugigangas (tarefas, amores, trabalhos, etc...) que mantemos no nosso dia a dia, ela não tem razão nenhuma de ser. Martin Heidegger dirá que na solidão encontramos o tédio, que ele batiza de "Força geradora do filosofar!". Karl Jaspers concorda com o companheiro Heidegger, porém chama de Naufrágo, assim como outras coisas (morte, dor) que tiram a gente da imersão da vida, do cotidiano, da um chacoalhada "Ei, veja de novo, é você que esta em pauta!".
A solidão, tanto do outro, ou enquanto uma ocupação consigo mesmo, pode ser uma proposta do balacobaco para um entretenimento, consigo mesmo. A demora com algo, requer estar estonteado na presença deste, você clamando pela demora naquela tarefa coalhada de vertigens. Já pensou que bacana, aprender a ser uma companhia fudida pra você mesmo? Não seremos vizinhos de planeta mais gostosos, risonhos e agradáveis aos outros?
"Ah, sei lá, essa coisa de pensar no eu, benefícios da solidão, parece furada, não é pra mim". Tah, tudo bão, só não reclame quando pedirem pra escrever um texto sobre si e faltar palavras,quando não souber descrever seu rosto, o número de dentes que há em sua boca, pelo menos o significado do seu nome ou o quanto de feijão colocar no prato. E sabe aquela casca em promoção do seu mascarabook*? Não sei dizer se realmente aquilo é você.
Já dizia um chegado meu, um tal de Frederico Nietzsche "Muitos não se conhecem, como encontrariam quem são? nem se deram ao trabalho de procurar."




*Ver o texto "Difusium Sum", que coloca em pauta a dimensão psicológica, sócio-econômica e filosófica sobre o eu (Persona, self, ergo ou mascara) onde os parceiros de pelada, Carl G. Jung, Marx e Bauman travam uma lasanha teórica gratinada pela reprodução ou a falta da identidade na concepção capitalista moderna.

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