Ad Baculum - Me passa a batata
Durante o almoço pedi para me passarem o tempo. As pessoas me olharam assustadas e incrédulas, poderiam serenamente me passar as batatas ou o sal, mas o tempo?
Depois da calada geral, afastei minha cadeira com força e agressividade, tamanha violência que beliscou a tinta mastigada da parede. Apontei o dedo provocante na cara da mãe, que estava com a boca cheia de comida, comendo desesperadamente e ainda levava mais uma colher á guela. Eu também estava com a boca cheia de comida, mas havia espaço suficiente para gritar:
- O que é o tempo? - Foi tamanho o grito que espalhei as batatas mal mastigadas pela mesa, estava desesperada pela resposta.
- O tempo são as horas do relógio filha - Respondeu minha mãe com a boca empanzinada da nova colherada de arroz.
Não disse nada, ninguém disse. Tal remanso é o pasto, criaturas bovinas olhando a vida como o boi olha para seu capim. Levantei minha cadeira de qualquer jeito, sentei novamente com todos me olhando, assustados demais para dizer algo. Ninguém parou de comer, nenhum instante. A comida esta de fato muito boa, com exceção das batatas.
A resposta da mãe desceu tão mal quanto as batatas que acabará de engolir sem mastigar. Queria saber se ela marca o encontro com as rendeiras da esquina baseada no relógio que marca a água - cujo os ponteiro zuretas registravam contas absurdas mensalmente - ou marca os minutos pelos ponteiros do medidor de pressão. Como seria terminar de cozinhar o aipim, olhar para os ponteiros magrinhos e pensar o infinito? Me calei, olhei um mosquito no canto do rodapé se enrascando em uma teia medonha, mas com o pensamento vago lembrei de Santo agostinho:
"Que é, pois, o tempo? Se
ninguém me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o pergunta,
não o sei."
Não culpei minha mãe, nem pelas batatas mal cozidas e nem pela resposta indigesta. E agora mais tranquila, larguei os garfos no prato de um modo que fizesse barulho, como quem pede a palavra e chama atenção, afastei o prato, cravei meus cotovelos na mesa e com a mão escorando o queixo, com o olhar prensado, lancei outra pergunta para minha mãe:
- Como a senhora cozinhou este almoço? Poderia dissertar sobre?
Ela sorriu. Também afastou o prato e repetiu todos os meus gestos: O cotovelo, mãos no queixo e olhar devoção ao interlocuto, porém, fez tudo para que ficasse explicito que era uma paródia maldosa. Debochada soltou um riso esganiçada, tirou as mão do queixo e disse:
- Você, especialista no lançamentos de cadeira, poderia acordar mais cedo amanhã e vir a cozinha, se quiser mapeio a casa para você saber onde é - disse ela apontando com o dedo a cozinha com o indicador esticado e a mão sacolejando em círculos - encontrará sua mãe cozinhando, não sei descrever para você como é, você precisa ver as manobras dos meus temperos acontecendo. - levantou e saiu.
Eu, ruminando aquela resposta - olhei para cara da minha irmã que olhava catatônica seu celular, mas preferi contemplar meu prato vazio ao invés da cara vazia dela. Notei que por mais que minha mãe soubesse usar o tempo, não sabia descreve-lo. Logo algumas pessoas, por mais competentes que sejam fazendo algo são incapazes de explicá-las.
Levantei da mesa, fui em direção ao banheiro e sentei no vaso, não para defecar, mas para pensar (mesmo sabendo que tem pessoas que fazem o segundo parecendo que estão dizendo o primeiro). Eu tinha vontade de entender essa dificuldade de definir coisas. Se me perguntarem o que é o cocô, pressuponho que querem a definição, mas e o que faz o cocô ser isso e não outra coisa? Posso dizer que ele é a matéria sólida excretada pelos seres humanos. Então, tudo o que entra nessas condições é cocô. Porém, há outras coisas que são excretadas pelo ser humano e não são fezes, logo essa não é uma condição coletivamente necessária. Como saberei o que realmente é o cocô se eu ficar encontrando empecilhos, dando um tese e falseando, como terei um progresso? O que me contenta, é que quando uso contra-argumentos, como Sócrates (não o barrigudo da venda, o grego que viveu a 400 A.C), para avaliar se um argumento é válido ou não eu já estou sei o que não é merda, porém saber o que é merda não é estar sob posse de uma definição de merda.
Levantei da patente e sai de casa. Depositei meus glúteos sob o simpático meio fio. Ainda tinha fezes na cabeça.
Estranho, as pessoas falam merda em um acidente de automóvel e em aulas de anatomia humana, portanto o mundo esta coalhado de definições do que seja merda. Há algumas que são contraditórias entre si "a merda é algo que sai pelo anus" ou "a merda não sai exclusivamente pelo anus", logo alguma dessas é verdadeira e a outra falsa pois uma nega a outra. Não podem ser ambas falsas ou verdadeiras. Apenas se eu digo "todo cocô é marrom" "todo cocô é verde", ambas podem ser falsas. Como podemos saber o que é verdade em relação ao cocô? Qual método poderei usar? Para saber que o dizem sobre o tempo ou sobre o cocô é verdade precisamos saber o que é a verdade. Seria a verdade adequação daquilo que dizemos ser a coisa comparando com a coisa em si?
Paremos de falar sobre cocô, vamos pegar a verdade pelas canelas e...
Depois da calada geral, afastei minha cadeira com força e agressividade, tamanha violência que beliscou a tinta mastigada da parede. Apontei o dedo provocante na cara da mãe, que estava com a boca cheia de comida, comendo desesperadamente e ainda levava mais uma colher á guela. Eu também estava com a boca cheia de comida, mas havia espaço suficiente para gritar:
- O que é o tempo? - Foi tamanho o grito que espalhei as batatas mal mastigadas pela mesa, estava desesperada pela resposta.
- O tempo são as horas do relógio filha - Respondeu minha mãe com a boca empanzinada da nova colherada de arroz.
Não disse nada, ninguém disse. Tal remanso é o pasto, criaturas bovinas olhando a vida como o boi olha para seu capim. Levantei minha cadeira de qualquer jeito, sentei novamente com todos me olhando, assustados demais para dizer algo. Ninguém parou de comer, nenhum instante. A comida esta de fato muito boa, com exceção das batatas.
A resposta da mãe desceu tão mal quanto as batatas que acabará de engolir sem mastigar. Queria saber se ela marca o encontro com as rendeiras da esquina baseada no relógio que marca a água - cujo os ponteiro zuretas registravam contas absurdas mensalmente - ou marca os minutos pelos ponteiros do medidor de pressão. Como seria terminar de cozinhar o aipim, olhar para os ponteiros magrinhos e pensar o infinito? Me calei, olhei um mosquito no canto do rodapé se enrascando em uma teia medonha, mas com o pensamento vago lembrei de Santo agostinho:
"Que é, pois, o tempo? Se
ninguém me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o pergunta,
não o sei."
Não culpei minha mãe, nem pelas batatas mal cozidas e nem pela resposta indigesta. E agora mais tranquila, larguei os garfos no prato de um modo que fizesse barulho, como quem pede a palavra e chama atenção, afastei o prato, cravei meus cotovelos na mesa e com a mão escorando o queixo, com o olhar prensado, lancei outra pergunta para minha mãe:
- Como a senhora cozinhou este almoço? Poderia dissertar sobre?
Ela sorriu. Também afastou o prato e repetiu todos os meus gestos: O cotovelo, mãos no queixo e olhar devoção ao interlocuto, porém, fez tudo para que ficasse explicito que era uma paródia maldosa. Debochada soltou um riso esganiçada, tirou as mão do queixo e disse:
- Você, especialista no lançamentos de cadeira, poderia acordar mais cedo amanhã e vir a cozinha, se quiser mapeio a casa para você saber onde é - disse ela apontando com o dedo a cozinha com o indicador esticado e a mão sacolejando em círculos - encontrará sua mãe cozinhando, não sei descrever para você como é, você precisa ver as manobras dos meus temperos acontecendo. - levantou e saiu.
Eu, ruminando aquela resposta - olhei para cara da minha irmã que olhava catatônica seu celular, mas preferi contemplar meu prato vazio ao invés da cara vazia dela. Notei que por mais que minha mãe soubesse usar o tempo, não sabia descreve-lo. Logo algumas pessoas, por mais competentes que sejam fazendo algo são incapazes de explicá-las.
Levantei da mesa, fui em direção ao banheiro e sentei no vaso, não para defecar, mas para pensar (mesmo sabendo que tem pessoas que fazem o segundo parecendo que estão dizendo o primeiro). Eu tinha vontade de entender essa dificuldade de definir coisas. Se me perguntarem o que é o cocô, pressuponho que querem a definição, mas e o que faz o cocô ser isso e não outra coisa? Posso dizer que ele é a matéria sólida excretada pelos seres humanos. Então, tudo o que entra nessas condições é cocô. Porém, há outras coisas que são excretadas pelo ser humano e não são fezes, logo essa não é uma condição coletivamente necessária. Como saberei o que realmente é o cocô se eu ficar encontrando empecilhos, dando um tese e falseando, como terei um progresso? O que me contenta, é que quando uso contra-argumentos, como Sócrates (não o barrigudo da venda, o grego que viveu a 400 A.C), para avaliar se um argumento é válido ou não eu já estou sei o que não é merda, porém saber o que é merda não é estar sob posse de uma definição de merda.
Levantei da patente e sai de casa. Depositei meus glúteos sob o simpático meio fio. Ainda tinha fezes na cabeça.
Estranho, as pessoas falam merda em um acidente de automóvel e em aulas de anatomia humana, portanto o mundo esta coalhado de definições do que seja merda. Há algumas que são contraditórias entre si "a merda é algo que sai pelo anus" ou "a merda não sai exclusivamente pelo anus", logo alguma dessas é verdadeira e a outra falsa pois uma nega a outra. Não podem ser ambas falsas ou verdadeiras. Apenas se eu digo "todo cocô é marrom" "todo cocô é verde", ambas podem ser falsas. Como podemos saber o que é verdade em relação ao cocô? Qual método poderei usar? Para saber que o dizem sobre o tempo ou sobre o cocô é verdade precisamos saber o que é a verdade. Seria a verdade adequação daquilo que dizemos ser a coisa comparando com a coisa em si?
Paremos de falar sobre cocô, vamos pegar a verdade pelas canelas e...
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