Desabafo de um ouvinte

A universidade é violenta mesmo que haja inúmeros espaços que dizem promover a desconstrução da suas práticas. O encontro com os estudantes foi uma provocação para perceber que muitas vezes acabamos taxando os indígenas como objetos de estudo e não como sabedores que tem muito a nos ensinar. Tive a oportunidade de transcrever a aula e na segunda vez que ouvi os relatos percebi que as dificuldades dos estudantes não acontece apenas na universidade, como o relato da Camila dos Santos, sobre a falta de uma UBS na sua aldeia, Nisto, é uma teia de problemas que o jovem indígena tem que enfrentar para ter acesso a uma vida digna. Para somar aos problemas, nesse período de Pandemia podemos ver, de forma escancarada a desigualdade no acesso as tecnologias e como isso tem afetado os estudantes, como na fala do MIcael e as propostas estrambólicas de acesso a internet do PROBEM: Pagar uma conta de internet de no mínimo R$150 reais com um auxílio de R$100, honrar uma franquia de internet de 1 ano, sendo que a duração do auxílio é 6 meses. Outra coisa, muito marcante, é a postura de professores da UEM, fazendo provas em Inglês, senão uma grande ignorância da docente, seria possível afirmar que é uma elaboração sistemática da exclusão dos estudantes indígenas e dos que não tem acesso ao idioma imperialista. Como é um forum, minha escrita tem um tom de desabafo e preocupação. Mais uma vez encerro minha reflexão me perguntando, qual é minha responsabilidade em tudo isso? Como posso contribuir? Meu papel é pesquisar, fazer a PESQUISA-AÇÃO, não só beber das fontes canônicas, mas educar o meu ouvir, ouvir e reouvir os meus colegas. Eu quero fazer como propõe Boaventura, articular os conhecimentos vivenciados na universidade, principalmente os da nossa maravilhosa optativa, para propor reflexões para as demandas colocadas pelas comunidades indígenas e outras que estão sendo afastada do seu lugar de direito, que é a Universidade. É necessário perceber que é uma pauta que extrapola a teoria. A universidade deveria rever suas atividades, seria necessária uma revolução aos moldes do que propõe Boaventura em seus 5 eixos do Ecologia de saberes. Uma reforma na preocupação do Acesso/permanência/Sucesso - Sendo assim, não basta colocar um aluno na UEM, deve-se verificar se as praticas dos cursos contemplam suas especificidades. No eixo ecologia de saberes, é necessário ouvir os estudantes, verificar seus conhecimentos. E também a articulação forte da comunidade com a universidade, é necessário que essas discussão chegue a comunidade, nosso pais, família, nossos pares! É uma pauta urgente, a desconstrução do "Indio" folclórico, o apontamento da importância deles para manutenção da nossa biodiversidade.

Comentários

Postagens mais visitadas