Lugares que habitamos
O que ensinamos/aprendemos entre nós nessa atividade, no processo de conhecer e produzir conhecimento, nesse contexto de nossos lugares?
A primeira coisa que veio a minha mente, foi a canção de Marisa Monte “Só não se perca ao entrar no meu infinito particular”. Essa canção representa a dificuldade de rondar as cercanias da nossa existência e entranhar nos sertões do Eu, para parafrasear outro músico maravilhoso, Chico César.Essas duas canções, prestam um favor para descrever a dificuldade de perceber como os espaços físicos e não físicos afetam nossa identidade. Porém, conforme o tempo passa, vamos deixando de lado algumas informações que auxiliam a pensar nossa história e identidade. Vamos colocando diversas bugigangas existenciais que impedem de nos depararmos conosco, na nudez do “Eu-mesmo”.
A atividade Lugares que habito, proposta pela Liz, baseada na metodologia cartografia de la memoria, de José Weir, me trouxe a consciência, memórias de contextos que habitei e que ajudaram a formar quem sou hoje. Junto com meu desenho e as experiência compartilhadas generosamente pelos colegas que coabitam o coletivo Ecologias de saber, tive inúmeras reflexões sobre o que quer dizer “habitar”. Gostei e mergulhei nas reflexões que tivemos, de que habitar significaria estabelecer morada, pertencimento (não dono e proprietário dos lugares, mas acolhido por eles) e assentamento. A habitação geralmente é espaço de refúgio, proteção, criação e, como a Liz comentou, do fazer (o comer, o curar, viver).
Ao iniciar a tarefa, me lembrei do artista Friedensreich Hundertwasser, que carrega a ideia de que o humano tem 5 peles.: a sua pele, sua roupa, a sua casa, o meio ambiente onde vive e, a última, a pele planetária. Essa concepção carrega uma beleza impar, pois eu percebo o quanto a ausência de lares fixos na minha infância marcou a minha dificuldade de pertencimento. Hoje eu reconheço que habito outros lares, não necessariamente físicos, mas nas relações, nas minhas memórias, no projeto ecologia de saberes, na filosofia (morar na filosofia, isso me lembra uma canção linda de Caetano) e nesse planeta. Tempos atrás, me identificava como forasteiro, hoje me sinto cosmopolitano, e perceber-se pertencendo é um passo grande para a responsabilidade e o cuidado.
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